28.8.11

silence#4

Só queria trocar este silêncio aterrorizador que me persegue nesta Bruxelas fria, chuvosa, enevoada e monótona pelo aconchego do teu abraço duradouro, pela doçura das tuas palavras, ou pela inocência das tuas confissões e pedidos de perdão. Só queria sentar-me a teu lado num passeio qualquer, observando o meu mundo a clarear e a capital a ganhar cor. Só queria moldar o tempo e poder dominá-lo, de forma a trazer-te, de novo, para junto de mim, da minha alma e do meu corpo... porque somente tu lhe conheces as linhas e as formas ao mais ínfimo pormenor. Somente tu me adivinhas os pensamentos a uma velocidade estonteante, de uma forma que ninguém para além de nós os dois jamais conseguirá entender. Somente tu sonhas comigo no mesmo instante em que o meu subconsciente está também tão cheio de ti. Somente nós estamos juntos, sem limites de tempo, na enorme e vertiginosa estrada, a que chamamos de destino. Só queria trazer de volta a tua voz rouca e calorosa, que outrora proferia os poemas que me escrevias nas noites mais saudosas e sós. Mas tu apagaste todas as notas, cartas e memórias que restavam deste nós que queima por dentro e mata a curto prazo, por não ter a chance de poder existir. Podias ter-mas dado em mão, em segredo. Eu podia tê-las guardado. Como te guardei, dando-te a chave do meu coração, para poderes entrar no meu pequeno e interdito mundo, em segredo. Revolto-me, então, e tu soltas um grito obsceno, na minha direcção e, por fim, abandonas a sala. E eu segredo-te ao ouvido, imaginando e querendo que ainda estejas perto de mim, que eu e tu seremos eternamente cúmplices. Cúmplices mesmo que o tempo, o destino, ou a própria vida deixem de ser nossos cúmplices. Seremos cúmplices num amor proíbido e perdido pelas amargas ruas da vida, mas inteiramente desejado. Cúmplices nas histórias que imaginamos e criamos dentro das nossas mentes, sem nunca ter a intenção de ferir ou trair. Cúmplices nesta dádiva que nos foi entregue, a que chamamos de vida. 

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