16.4.12

o nosso amor nunca foi genuíno

Passaram os primeiros dias sem ti como blocos de gelo ardente e eu continuava sempre com o relógio na mão que eu própria tinha parado na esperança de fazer o tempo parar também. Os estores do quarto continuavam corridos como tu os tinhas deixado quando te surpreendi e te mandei sair do meu espaço, e eu continuava a dormir agarrada ao coração que em tempos me tinhas dado em mãos, com todo o teu coração - achava eu. Apenas o meu olhar tinha mudado, e no mais fundo do seu brilho estavam cravadas as palavras que me tinhas escrito e embrulhado num envelope branco comum...
Logo o tempo passou mais depressa quando me esqueci da mágoa de ti e me ergui à procura de felicidade por todos os pequenos cantos do Mundo, tendo em mente encontrar sorrisos nas mais simples coisas da vida.. Procurei sorrisos nos mares revoltosos, nas rochas gravadas, nas palavras sublimes e nas pinturas eternas. Mas  apenas vieram os sorrisos quando eu estava já só e de olhos vendados, a caminhar de cabeça baixa e esfregando os olhos baços como uma mera desistente. Vieram os sorrisos precisamente quando eu não procurava por eles, vieram ter comigo como quando tu vieste ter comigo. Repentinamente. Eles gritaram: surpresa! E aí, como que por súbita magia, o meu corpo esqueceu-se do toque e da suavidade do teu corpo que o haviam perseguido e os meus lábios esqueceram-se da sensação de sentir os teus bem perto, do sabor intenso dos teus. Ao passar pelos sítios que outrora dizíamos e repetíamos bem alto, como duas crianças felizes, serem nossos e somente nossos, não me passava pela cabeça aquela imagem atordoante dos nossos beijos e das nossas mãos entrelaçadas e dos nossos passos caminhando lado a lado e compassadamente e da nossa paixão desalmada e descabida. Não, não foi o tempo que me fez esquecer de ti. Foram os sorrisos. Os verdadeiros. Eles resultam e contagiam-nos, sabias? Foi o amor. O mais genuíno, puro e afável dos amores. Esse amor que me veio tirar do fundo buraco em que o nosso sinistro e velho sentimento me tinha inserido, esse amor que me fez viver, esse amor que me fez amar-me.
E aí os dias passaram depressa como se fossem fracções de segundos e os anos como se fossem dias, rápidos, efémeros, confusos, cheios, coloridos ou tristes. Conforme. Porque c'est la vie, sempre ouvi dizer isso pelos pequenos cantos do Mundo que percorri. Um ano se passou assim. Dois anos se passaram assim. E eu vivi a minha vida, em vários sítios e com várias pessoas que a tornaram muito mais especial do que jamais tinha sido. Mas agora, dois anos depois de nos termos despedido, e por ser hoje aquele dia que, quer queira quer não, tudo à minha volta dói um pouco, eu confesso-te que há uma coisa que me faz muita falta e que em nós sobrava. A magia da música. O som da tua guitarra conjugado com a minha voz, as tuas mãos a agarrarem as minhas, a tua palheta roxa, os refrões das músicas cantados baixinho por ti directamente no meu ouvido, o belo do Anzol que eu sempre amei. Os finais de tarde passados na rua, só os quatro: eu, tu, a guitarra, o sol. Porque a música e aquela relva, todo aquele cenário romântico, me fizeram amar-te.

4 comentários:

  1. ADOOOOOOOOOOOOORO! nao sei se já viste o concurso que se está a desenvolver no meu blog :) acho que devias participar

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  2. O texto está lindoooo! Tens imenso jeito! Parabéns :)

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