24.10.11

há sempre um "mas"

Abri as portas de casa, desta vez sozinha. Ainda não estou em mim. Ainda nem sequer derramei uma lágrima. Há tempos atrás, também num dia de silêncios desconfortáveis, disse-te que nada era definitivo, nem mesmo a palavra "amo-te", e agora essas minhas palavras fazem o triplo do sentido. Estou perdida, assim como também tu o estás. Ou, pelo menos, penso que sim, penso que sim por acreditar que ainda restou algo do teu antigo eu nesse corpo que deambula por espaços longes dos meus, em passos desajeitados. Se assim o é, reconquista aquilo que ainda consideras teu. Rosas e perdões sempre valeram alguma coisa. Não fiques sentado no sofá, arranjando mil e uma maneiras de passar o tempo, tentando esquecer momentos que são inesquecíveis. Que até agora nunca foste capaz de esquecer. Luta enquanto ainda é tempo. Se é que ainda é tempo.
Mentalizei-me há tanto tempo de que havias partido, ainda muito antes de te deixar partir. Mas, como há tempos atrás também te disse, acho que nunca estamos preparados para vermos alguém que amamos perdidamente partir, sem deixar um rasto ou uma palavra de despedida. Um adeus, ainda que apenas com actos, é sempre doloroso. Deixa marcas irreversíveis. Eu já vi alguém que amava partir e estava de mãos atadas. Tempos depois, fechei-me em copas para ti, por isso, tu sabes disso melhor que ninguém. Sabes ainda melhor o quanto custa amar alguém que não conhecemos a cem por centro, porque esse alguém não nos dá tal possibilidade. Amar alguém que não nos retribui nenhum dos gestos dóceis. Mas, com o tempo, tu fizeste-me mudar, criaste esperanças dentro de mim e eu, de acordo com as tuas infinitas promessas, criei expectativas para uma nova vida. Hoje, olhando para trás, vejo que essa foi a minha própria sentença de morte (interna). Hoje, estou afogada em marés de mágoas e de arrependimentos profundos. Tu prometeste ser alguém que te trocou as voltas, abandonando-te de ti mesmo, sem dares conta. Quem te manda viveres de olhos fechados? Quem te tirou de ti próprio? Quem te roubou a gratidão, a sinceridade, o amor próprio? Quem te roubou a personalidade e os seus gestos característicos que me fascinaram? Que me conquistaram, em apenas numa semana, para toda a minha vida? Que me cativaram? Já te supliquei de joelhos que voltasses para este Mundo. Até podia ser só durante um bocadinho, eu trataria do resto. Mas talvez agora seja tarde. Porque agora o meu coração encontra-se espezinhado. Amachucaste-o todos os dias em que estiveste ausente de ti próprio, de mim e da nossa vida conjunta, passando por mim sem me deitar um único olhar, passando por mim sem marcar presença, fazendo-me críticas excessivas ou julgamentos e insinuações incertas. O meu Mundo agora está de pernas para o ar. Já não sei o que é a solidão, porque me sentia sozinha contigo e sinto-me completa sem ti. Deixaste de saber como me fazer feliz, e assim sei que estou sozinha devido a uma escolha minha. Eu, que em tempos te chamava de "meu bem", apercebo-me de que já nem isso faz sentido: tens sido a raíz do mal que se interpela nos meus caminhos. Nos nossos caminhos, que agora se encontram num caos total. Nós? Acho que esse nós já não existe. Mas já não existe há tanto tempo, sabes... Já não existe desde que te foste embora. Já não existe desde que te foste embora, sem tu mesmo te interares dessa partida.
Por isso volta, enquanto é tempo. Se ainda for tempo. Vivemos coisas demasiado bonitas, para agora as deitarmos todas pela janela, de uma só vez. Não quero ter de esvaziar as paredes do sítio que é o meu único refúgio. Dói demais a ideia de o "nós" agora se cinjir a memórias passadas. Custa a crer que as fotografias, que antes tinha como marcos representativas de uma nossa história, tenham que ser queimadas. Mas ninguém percebe estas ironias e questões controversas do destino e do amor. Nem mesmo eu. Sinto apenas o terrível medo de te perder, de te perder ainda mais um bocadinho. Tenho medo que abandones o navio, embora já lá nem eu esteja. Mas, quem sabe, de tão perdida estar, pode ser que me encontre(s) por lá.

3 comentários:

  1. Desde já peço-te desculpa por ter retirado o video do teu blog mas... achei mesmo que deve de ser publicado. E faço estas perguntas a mim mesma todos os dias: Quem te manda viveres de olhos fechados? Quem te tirou de ti próprio? Quem te roubou a gratidão, a sinceridade, o amor próprio? Quem te roubou a personalidade e os seus gestos característicos que me fascinaram? Que me conquistaram, em apenas numa semana, para toda a minha vida? Que me cativaram? - o texto está lindo do inicio ao fim!

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  2. oh, muito obrigada mesmo. é muito bom saber que alguém reconhece a minha escrita e lhe dê valor, mais uma vez...muito obrigada!

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  3. Minha querida seguidora, criei outro blog e gostava que o seguisses também, não vou deixar de escrever naquele que já tenho, mas neste vou falar sobre uma relação que falhou.
    http://loveisnasty.blogspot.com/

    (adorei esse post, está lindo*)

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