28.11.11

o último cigarro da noite

Talvez tenha partido para não te ver mais chorar. 
...
E ainda hoje essa imagem do teu rosto embala o meu corpo morto que fora forçosamente levado para um lugar longínquo, ao cair das tuas lágrimas. 

Eu queria poder esquecer-me de ti no fim de cada noite, e queria ainda mais conseguir controlar a minha vontade de te escrever. E queria, queria tanto, resistir à tentação de te telefonar em anónimo só para ouvir a tua voz. Desligando a chamada logo a seguir, depois de um minuto do mais puro e límpido silêncio. Não fosse eu uma autêntica cobarde, semelhante a todos aqueles que mais repugno nesta vida.
Até te ver derramar lágrimas repletas de alegria, de sonho e de fundo desespero, eu fui capaz de conter as minhas lágrimas nessas noites. Fui forte. E fui capaz de me deitar sem fumar o tão apetecido cigarro. Mas sou humana. E há momentos que mexem connosco de tal forma que, assim que acontecem, saberemos que nunca se repetirão. E tentamos dar-lhes uma injecção com mais um pouquinho de vida. Tentamos ferir ainda mais, para que o choro se prolongue e não se acabe nunca - reanimando algo que sabemos já estar morto, abrindo uma ferida que já havia sarado há muito.
E há tentações às quais se torna impossível resistir - aquelas que reflectem as emoções que nos foram proibidas de exprimir. Tu, acarretando as tuas palavras e as tuas sentidas lágrimas, és assim. És como o fumo azulado deixado pelo último cigarro da noite no quarto escuro - não há beleza igual, nem outra que se espalhe de forma tão envolvente. Mas ele é, literalmente, o último - acaba-se e não resta mais nenhum. Como o tal momento, como a tal imagem, como as tais lágrimas, como as tais palavras e, até como o tal silêncio.

"Sabes os poucos segredos que guardo, pois os teus são equivalentes, sabes os sonhos que idealizo, pois ambos sonhamos (...)"

2 comentários: