7.11.11

something about the past#6

Vem.
Vem desejar-me, sabes que adoro que me desejes. Vem eternizar as réstias de instantes vividos a dois. Vem completar-me com o abraço que pareces querer tanto dar-me. Vem estender-me os teus braços e hospitalizar-me no teu coração, quente e sereno. Vem contemplar-me com esse olhar avassalador, que invade os meus devaneios mais íntimos. Vem fazer do incenso do teu corpo o meu lar. Vem trazer o amor, que para nós nunca teve a oportunidade de ser um lugar-comum. Vem despertar-me desta vida rotineira e sem brilho. Vem para que possa sentir as gotas de chuva no meu cabelo húmido e observá-las a pairar também no teu, neste sítio que sem ti aparenta ser tão moribundo. Tão sem conteúdo.
Adoro quando dizes, carregado de razão, que tens saudades do que fomos. Que éramos únicos, mas que nos faltava algo. O sal... a experiência que agora ambos temos. A experiência do rompimento doloroso e saudoso, a experiência do arrependimento dos seguintes e corrompidos amores. Vem livrar-me dos livros expostos nas ruas já com títulos e histórias meus conhecidos, dos rostos espalhados já com expressões antigas e remotas, dos acontecimentos já transformados em memórias familiares e cria novos no livro da minha vida, connosco lado a lado. Sem a doçura do teu ser, esta vida torna-se uma estrada perigosa que já não me sinto grata ao percorrer. As gotas da chuva que caem de um modo suave quando me encontro sozinha nas esquinas da mais pura amargura são cada vez mais finas. As catástrofes naturais e as mudanças de ventos são cada vez menos inocentes, sem ti. A inocência da natureza é tão bela e sem rasteiras. As sombras das árvores que me estendem os braços e me protegem do brilho dos raios de sol são tão pertinentes. Quase tão confortantes como tu, meu amor. A brisa rasteira às ondas furiosas do oceano arrefece-me o corpo e a alma, aclarando ideias espalhadas e confusas e inspirando outras novas. Mas nunca novos ideais. Sempre tu, por estar sem ti. A velocidade do vaivém dessas mesmas ondas é impressionante. Batem monumentalmente na areia e explodem, deixando um rasto contínuo de espuma. As rochas cobertas de musgo e algas completam a paisagem, que é natural e pura, tal como a nossa fotografia mais antiga. Neste lugar pacífico, seguro e disfuncional não existem mais seres humanos, e por isso não há valores de verdade nem seus juízos e preocupações. É tudo tão calmo e cada acontecimento é tão sábio. Não existem culpas, homenagens, nem perdões. A natureza é intitulada Imperatriz de um (nosso) Mundo chamado amor.

Vem pôr uma borracha sob o seu fim, e dá um novo rumo à nossa história. Reescrevê-la-emos os dois, unidos e de mãos dadas. Vem, para que nos possamos despedir da nostalgia. Vamos dar-lhe o prazer de um adeus definitivo, acompanhado de uma chuvada intensa e, tipicamente romântica.

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