9.1.12

eu deixei-te ir, mas deixei sinais espalhados pelo nosso lar

Pressinto-te. Sinto-te. Em cada noite. Como se fosses um fantasma que salta de uma página para outra do livro antigo que folheio. E os meus olhos largam as viciantes linhas do romance mais puro e envolvente. Deixo-o. E concentro-me no nosso romance. No nosso romance... que morre em cada noite. Mas logo nos deixo. 
O amor também se esquece, sabes? E de há algumas noites para cá, ele tem-se esquecido de nós. E o futuro foge-nos por entre os dedos como água a escorrer descontroladamente. E nós fugimos com ele, em balões de ar quente. O nós voa pelos céus azuis e brilhantes. E a névoa acima dos céus desaparece. Os ventos levam a nossa magia e deixamos de ver o nosso reflexo unido no espelho. 
Amei-te tanto e esse amor, recheado de medo, consumiu-me desumanamente. E o medo alimentou de tal forma a minha dor que me fui deixando guiando por ele, de olhos vendados e de mãos atadas - e te fui deixando ir. Eu deixei-te ir, mas deixei sinais, sabes? Deixei as portas encostadas e as luzes do quarto ligadas quando já se tinha posto noite cerrada. Deixei as velas acesas durante toda a noite, para te lembrares de acreditar, mesmo mergulhado nos sonhos - afinal de contas, o sonho comanda a vida. Deixei os postais e os memorandos pela casa carregados de palavras rabiscadas à pressa - porém, sentidas. Mas fomo-nos e o nós desvaneceu-se. E com ele, também tu te vais. Te destróis. Vais morrendo a cada noite - e cada noite teima em tornar-se mais só e torbulenta. E vazia. Tão vazia, paixão. E de repente vem o sabor amargo de uma doce lembrança. E recordo-nos durante uns curtos segundos. E a seguir já nada faz sentido. Mas o meu coração aqueceu e, apesar de logo ter gelado, eu senti-te. Senti uma pontada de saudade - e será a saudade a única forma de ainda sentir um pouco de esperança neste amor que se perdeu por céus que desconhecemos? 

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