5.2.12

uma memória viva

Por vezes olho-me ao espelho e ainda te encontro em mim. Parece que te escondeste nos vértices e orifícios do meu corpo, no vácuo. Parece que abriste os arranhões que há muito me fizeste para que ficassem gravados eternamente na minha pele. Parece, quando me olho ao espelho, que te encontras no fundo dos meus olhos baços e tristes... e quando choro, o teu retrato aparece ao de leve nas gotas das minhas lágrimas. Não te foste, nunca te foste, as tuas marcas dentro do meu corpo permaneceram, e os cheiros e restos de ti ficaram com elas, ficaram em mim para me atormentar. Os cheiros e os restos do amor que praticámos loucamente, como dois adolescentes apaixonados e possuentes de um sentimento doentio. Nunca te foste embora, e hoje entendo o porquê de teres resistido tanto e por tanto tempo à nossa rotura. Hoje percebo o porquê de não teres querido partir quando te abri a porta da minha casa e te mandei sair à força, com a raiva e a dor cravadas no rosto. Hoje percebo tanta coisa que fizeste para ficar na minha vida, e percebo-o porque o conseguiste. Porque ficaste e porque nada me repugna mais que isso. O sentimento é somente esse porque a dor se gastou. Fizeste-me explodir de dor e atingir o auge do desespero, e agora nada mais no mundo inteiro me magoa.

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