25.5.11

the little girl

São mais aquelas noites em que não prego olho, do que as outras tantas. São mais frequentes as noites em que relembro mágoas passadas e fico assustada… e ainda mais frequentes aquelas em que os meus sorrisos, já quase irreais, se transformam em lágrimas que insistem em cair e em que sinto aquele amargo na boca. São noites em que o silêncio me persegue e, ao mesmo tempo, me foge. São noites em que nem a escuridão do refúgio do meu quarto me conforta e nem a escrita me liberta. São noites que teimam em não passar. São noites em que as palavras que não profiro pesam e formam nós na garganta, como se me sentisse culpada de algo. Mas sabes por que não te culpo pelos teus pecados que causaram o meu trauma destas noites? Porque as minhas armas são apenas a ironia e o sarcasmo. Não me ajoelho a ti a suplicar-te perdão, não imploro, nem sequer choro na tua presença. A teus olhos, gosto de ser apenas a sombra da pessoa que já fui… da pessoa que era, na noite em que me (a) levaste para longe de mim. Gosto de ser o reflexo dessa pessoa que já não sei ser, dessa pessoa cujo paradeiro já não conheço e cujo coração já não sei a morada, nem mesmo se existe. Mas é um reflexo triste e enigmático, com a boca seca e os olhos desolados de tantas memórias sombrias reviver. Memórias que revivo em pesadelos e em parciais realidades onde me encaixo. Memórias que os pensamentos vão puxando e que apertam no coração, que nunca mais ficou intacto (se é que ainda existe). Gosto de ser apenas um fantasma dessa pessoa que tu agora tens, tentando plagiar todas as acções e todos os sentidos que me (lhe) roubaste. Gosto de ser apenas um errante pensador, que suspira, que lembra e que relembra. Gosto somente de deambular pelos espaços e pelos recantos daqui e dali, reavivando as lembranças que já estão por mim (ela) esquecidas. Gosto de ser apenas uma metade que não faz sentido sem a outra... sim, aquela que tu me tiraste sem pudor. Gosto de ser um viajante para cá e para lá nos ponteiros do relógio e gosto de sobreviver só do passar do tempo. Gosto de assaltar, de vez em quando, o subconsciente daquela menina que outrora fui eu e que agora tu possuis. Gosto de ser um anjo da guarda nos sonhos dessa menina. Gosto de invadir os espaços mais íntimos da tal menina, tentando atenuar as feridas mais doridas e encorajar as mais longas procuras que a vida lhe vai exigindo: as de felicidade. Gosto de preencher os veios das folhas de saudade que a menina guarda todos os dias, sem saber como as deter quando atacam e doem mais. Gosto de repousar por cima do corpo da menina e, sempre que o faço, sussurro para dentro: "Quem me dera habitar outra vez no teu corpo". Sabes porquê? Essa menina não é como as outras. Não sonha com um príncipe encantado com o qual seja feliz para sempre. Sonha com um salvamento sim, mas não é o de um grande amor, é um legítimo: o meu. Em tempos, o dela, e que ela quer recuperar. Sonha só, somente e apenas com a possibilidade do seu renascimento.


27 de Abril de 2011

P.S.: Alteraram-me a password do meu blog antigo, daí ter criado este... Vou pôr alguns textos desse mesmo blog (da sapo) e alternar com alguns novos... Hope you like it!

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