1.6.11

there's nothing left to say

Todos os espaços se tornaram indefinidos. Os mesmos espaços ficaram ser ar, de tanto o inspirar, procurando alguma tranquilidade interna. Tornaram-se mais do que irrespiráveis. Como é possível? Nem sistematizando, conseguiria expressar tudo. Não considero que as palavras sejam moldáveis aos sentimentos. E essas, estão gastas. O que dizer quando a sensação é a de já termos dito tudo? O que fazer quando a ideia é a de já termos dado tudo? Dei-te tudo, sim. Se calhar, até te dei demais. Sei que nem sempre foi assim, sei que ao início me enclausurei. Sei que me fechei em copas e criei um muro, impedindo-te de entrar na minha zona de conforto. Impedi-te de entrar e impedi-me, em corpo e mente, de sair. Mas e agora? Creio já não ter nada para possuir, nem para oferecer. Possuíste-me vezes sem conta, possuíste-me as vezes que quiseste e eu calei-me como uma velha criada, apaixonada pelo patrão. Deslumbrada. Acabada de cair na perigosa rasteira que é o desejo (aliciante...) de te ter. Mas... será que alguma vez foste meu? Tenho a sensação de que me dei tantas vezes a ti, sem tabus nem timidez alguma... e também a sensação de que nunca foste meu. Estarei errada? A confusão interna é tanta... Já não quero saber. Já não posso saber. Mas a verdade é que sei: os meus lábios ainda sabem aos teus; o meu corpo ainda tem resíduos do teu; no meu coração ficaram marcadas todas as tuas promessas... aquelas em que dizias voltar na noite seguinte e poder passar a ficar todas as noites. Desejei-te ainda mais. Desejei a tua mão enrolada no meu ombro, a tua cabeça encostada ao meu corpo, enquanto eu via a novela da noite. Desejei adormecer ao teu lado, acordar com o teu beijo na testa e o teu suave "Bom dia, querida" até ao resto dos meus dias. Desejei, imaginei, delirei, construí histórias fictícias de um amor eterno e impossível na minha cabeça... Mas o meu coração já não é de fiar: está velho, farto, fatigado dessas mentiras reles, rudes, comuns... está até sábio demais. Tive uma overdose de amor e depois do meu amor por ti, todo aquele que tinha para dar esgotou-se. Talvez com a intensidade dos dias, com o calor das noites ou com o silêncio  obrigado dos instantes mais clandestinos e proibidos. Talvez mesmo com as memórias também fartas, fatigados... até sábias demais. As palavras que o enchiam e deslumbravam o escutar de tantos outros esgotaram-se. Estão, repito, gastas no espaço vazio em que agora me insiro, vezes e vezes sem conta.
Nos momentos em que me pedes mais, digo-te de novo que creio já ter dado tudo, e estas são as minhas últimas palavras.




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