20.8.11

confessions

Nesta noite de íntimas confissões, apanho os cacos que deixaste caídos no chão de tua (nossa) casa. Ela diz-me que sofres, mas eu não reparo. Se esse sofrimento é tão invasivo assim, só pode ser silencioso... ainda que eu não espreite pelas rachas das paredes, nem ouça as conversas atrás das portas, se sofres, é em segredo. Fazes tudo em segredo. Como eu. Amas em segredo, ages em segredo, apunhalas em segredo, (sobre)vives em segredo. És cúmplice dessas mesmas (sobre)vivências, e eu sou a mais sagrada testemunha disso. Não procures redenção por isso.
Eu, olho-me ao espelho e só vejo uma colagem de diferentes partes do meu corpo. Jogo um jogo, limpo e sujo ao mesmo tempo, em que colo esses pedaços, tentando apanhar o meu reflexo. Mas ele foge-me. Atravessa-me. A minha mente balança em devaneios. As pessoas querem aquilo que não têm, desejam aquilo a que não têm direito, diz-me ela. Eu (- a minha mente) desejo apenas viver num espaço que seja mais do que uma casa com várias divisões, mais do que quatro paredes construídas com o intuito de acolher uma família. Queria apenas sentir que a minha casa, é o meu doce e eterno lar. Queria poder livrar-me do preconceito, do modo de pensar conservador e da loucura existentes em ti. Nele. No outro. Queria poder ser livre num espaço nosso: meu, teu, deles, dos outros. Queria poder ser livre dentro da minha própria loucura e, anarquicamente. Queria poder desfrutar da tua presença e da tua companhia. Sem tabús. Queria despoletar esta vingança cega e sólida. Queria falar sem o receio de ser censurada.
Já não aceito julgamentos alheios, já não os tolero sequer. E, que fique aqui escrito e gravado: hás-de amargá-las. Hás-de rastejar-me pelos pés, a pedir-me perdão. Hás-de arrepender-te pelas tuas escolhas, todas as madrugadas em que arrepios frios e pesadelos te percorrem o corpo. Hás-de sentir remorsos pesados e avassaladores, por todo o mal que me injectaste nas veias.

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