28.9.11

darkness

Nesta tarde exageradamente luminosa, corro os estores e permaneço no escuro, em silêncio. Ocorrem-me inúmeras acções do passado na mente; memórias de um passado que estava convicta de já ter esquecido. Em tempos, arrumei muito bem todas as cartas de amor, fotografias com notas manuscritas no verso, objectos teus e objectos que me ofereceste, flores já secas e lembranças factuais e meramente materiais numa caixa de papel. Escondi-a, bem enterrada num canto refundido, pensando que não me lembraria de ti, se nada me fizesse lembrar de ti. Mas o silêncio e a escuridão encarregaram-se, tanto tempo depois, de te trazer de novo para dentro da minha alma e de intensificar as réstias de ti que ficaram no meu corpo e os teus cheiros que se pegaram ao meu cabelo. Viajo na máquina do meu próprio tempo, onde estão bem guardadas as recordações, as vivências e as esperanças de uma vida, até um passado distante. Vejo-me nele, tão cheia de ti e tão submersa na nossa grande paixão. Vejo-me cega do teu amor, e agora sei que ele foi ostensivo. Imagino-nos deitados entre os meus lençóis e recordo-me das palavras que te sussurrava, constantemente e em gestos frios, ao ouvido: "Só no escuro consigo amar-te."

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