18.9.11

something about the past#5

Descalcei os pés e afundei-os na areia gelada. Respirei fundo e disse para mim mesma “hoje estarei por fim pronta para me entregar a ti”. Dei um passo em frente. Sentia as têmporas a latejar e o sangue a correr-me nas veias fugazmente. Limpei o suor na testa e quis correr até ti. Corri na areia e deixei as minhas marcas. Pegadas que ninguém iria conseguir remover. Lá ao fundo, a praia estava vazia. Tudo o que conseguia observar era um clarão: um clarão que me ofuscava a vista e me impedia de te avistar. Um clarão sem fim. Rasguei as minhas roupas num acto de revolta e corri, mais uma vez. Corri de uma forma tão veloz que uma tontura me impediu de continuar. Estava já sem fôlego e não conseguia imaginar o fim daquele caminho. Estendia os meus braços naquela imensidão de luz e não te encontrava. O tacto já de nada me servia. As minhas emoções estavam soltas no vazio. Os teus olhos esbugalhados e o tal sorriso rasgado já não tinham qualquer sentido. Estavas perdido. Ou, quem sabe, simplesmente havias partido. Senti-me impotente. Senti o meu coração deixar de bombear sangue para o resto do corpo. Senti uma corda no pescoço que me fez parar de respirar. Vendas de pano velho e sujo tapavam-me os olhos e era agora impossível ver o Mundo. Estava eu também perdida. Perdida dentro da saudade e da solidão. Baloicei na incerteza, na espera e na esperança. A fraqueza apoderava-se do meu corpo, que estava a ir-se abaixo. Nada conseguia fazer por ti, portanto decidi partir para me encontrar contigo. Ausentei-me. Aquele fora o meu grito de liberdade. Abandonei o baloiço e parti. Com certezas e esperança, esperei. A viagem era o que necessitava para me lembrar de ti. Ou, quem sabe, para me esquecer de ti. Para tu, quem sabe, me esqueceres ou te lembrares de mim. A luz desaparecera e os nossos olhares cruzaram-se. Vi o horizonte. Vi sonhos pintados no céu. Vi um futuro, embora irreal. Inalei o perfume alegre das flores cor-de-rosa. Aquele instante era apenas uma história fictícia, pois não te conseguia sentir. As emoções estavam perdidas. Demos meio beijo e meio abraço. Ficou tudo pela metade, porque eu não consegui sentir a tua presença aquecer-me o corpo. A tua voz suave não me aconchegou a alma nem causou borboletas no estômago. De ti, não consegui mais do que metades. Já nada passava de lembranças queimadas, resultados de uma história, outrora, real. Naquele instante, tu já não eras real. Tu já não és real. Nadei dentro das ondas espumosas e sombrias, umas seguidas das outras a bater com força, numa tentativa de fuga. Apaguei as palavras que te escrevi e rasguei as páginas do meu diário. Nunca antes sentira aquilo: nada. Absolutamente nada. Nem uma lágrima derramou sobre o meu rosto. Nadei sem um trajecto delineado. Nadei numa tentativa de valorizar a derrota de te ter perdido. A batalha, para alguns, de agora não possuir sentimento algum. Tentei, mas tu não valeste a pena e foi tão fundo o meu abismo. O horizonte apagara-se. Os sonhos tinham desaparecido. O futuro tinha-se desvanecido. Amanheceu sem o típico nascer do sol e as flores estavam murchas e sem perfume algum.

Sem comentários:

Enviar um comentário