3.10.11

volta

Acendo o meu cigarro das seis da tarde, confusa e só, apanhando lufadas de ar fresco sob a face, e reflicto. Dou conta das expectativas a diminuirem, a pique, dentro de mim própria. Os ares matinais de hoje pesaram, sem qualquer êxito, para mim, e as esperanças dispersaram-se nele. Pensamentos obscuros e sombrios invadiram a minha mente... Relembro um passado não muito distante, um passado feliz.
Hoje, há serões que são muito bem passados, e entre conversas, galhofas e convívio, os ponteiros do relógio tilintam devagar, e eu só penso que queria que fizesses parte de tudo isto.
Queria, desesperadamente, sentir que faço parte da tua vida, e vice-versa. Gostava que me acompanhasses nas coisas mais simples da vida, como uma ida ao café, ou ao cinema... ainda que fosse para ver um filme ranhoso ou para bebericar um café mal tirado - não importa. Queria sentir que completas a vida que outrora já era minha, queria possuir certezas de que és o pedaçinho que agora a completa e a torna mil vezes mais brilhante. Queria, queria, queria!
Tu cativaste-me, descobriste a fórmula para me teres na tua mão e mostraste-me, da noite para o dia, toda a tua vida. E eu, aos poucos, fui-te mostrando uma pequena parte da minha história, enquanto os sentimentos se tornavam recíprocos. É certo que nos fins-de-semana em que proferias palavras doces, tentando reconfortar-me ou conquistar-me, eu calava-me, sentindo o meu coração congelar, sem saber o que fazer. Posso ter demorado dias, semanas, ou até meses, a entregar-me, mas quando o fiz, fi-lo por completo. Descrevi-te as quedas mais dolorosas que dei, confidenciei-te os meus segredos mais obscuros e loucos e mostrei-te as fotografias mais sorridentes, esperando que, a vida que me tinhas mostrado, não se fosse transformar num relato escrito em papel antigo. Gostava que as tuas tais doces palavras não tivessem desaparecido do teu vocabulário, agora mais reduzido e insonso. Gostava que, nos muitos fins-de-semana em que não te vejo, me conseguissem consolar essas palavras, da tanta falta que me fazes. Diz-me que exagero, diz-me que dramatizo. Se o pensas, não amas... porque eu amo-te e amo-te com tudo o que tenho, estou contigo inteiramente, e só queria que, nos dias como o de hoje, me tivesses recebido mais sorridente, e de braços abertos.
Enquanto me perco nestes, talvez, meros caprichos ou desejos, para ti, sem sentido, sinto que acontece o oposto do que era suposto. Sinto que deixaste de me tratar como prioridade e me passaste a tratar como opção, e deixo de ter forças para correr atrás de ti. Sinto que tu vales a pena, como sempre. No entanto, o meu corpo está cansado e o meu coração desgastado. A fórmula deixou de funcionar.
Por isso, mostra-me que quando voltaste, não voltaste com a ideia preconcebida de que eu era já um dado adquirido. Ou então, volta, literalmente e, de vez. Volta de corpo e alma. Volta e luta, volta e batalha, e, acima de tudo, volta e defende aquilo que te pertence, com garra. Mas volta, volta assim que as luzes da minha dolce vita se apagarem de novo.

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