3.11.11

despedidas

Talvez os trovões e os relâmpagos e o granizo e a chuva forte, que nunca antes me causaram coisa nenhuma, hoje tenham vindo para me lembrarem de me esquecer de ti. Para me lembrarem de ter medo, por estar desprotegida de qualquer uma das tempestades da vida. Para me lembrarem de que também mereço um lugar ao sol. Para me lembrarem que, os dias Invernais são insuportáveis sem o calor do teu abraço, e que preciso de arranjar outra forma de sentir o meu coração quente e seguro. Para me lembrarem de que, talvez seja este o tempo certo para te apagar de mim. Para me lembrarem de escavar um buraco naquela mata por onde tanto correste comigo às cavalitas, um buraco bem fundo, para guardar lá tudo o que ainda resta de ti, de nós. Do meu antigo eu, da minha velha vida. Para me lembrarem de rasgar das paredes as fotografias sorridentes e rebeldes e as fotografias da nossa doce infância. Para me lembrarem de retirar o grande coração da secretária do meu quarto. O que farei eu com ele? É o teu coração, sempre te disse que iria cuidar dele. Mas ele já não me pertence, já não me acompanha em cada vez que a tua mão não está agarrada à minha, já não está sempre a meu lado.
Tu pertences-lhe, e o teu coração agora também lhe pertence. Se bem que, no teu íntimo, tu sabes que uma parte dele irá sempre ser minha. Fui o teu primeiro amor, e sei, tão bem quanto tu, que algo assim não se esquece, nem com o passar dos dias, nem dos meses, nem dos anos, nem com qualquer divisão do tempo. Foste o meu melhor amigo, e cá dentro ainda és, mas sei que agora é tempo de te deixar ir. Para o passado. A dor trouxe-me essas notícias, apagando as velas. É tempo de eu apagar as velas de dentro de mim também. Agora eu sei que vais correr, e vou ter de me mentalizar que não me posso mais empoleirar nos teus ombros, para viver uma vida menos sozinha e menos receosa. Agora eu sei que vais embora, que vais embora para um outro Mundo, vivido com outro alguém a teu lado. Quis encher-me de esperanças de que, um dia, quando já não a considerasses tua e ela não te amasse como sendo só dela, tu voltasses de braços abertos para o meu abrigo. Mas agora sei que mereço mais do que isso. Ou, pelo menos, vou tentar interiozar tudo isto. Agora eu sei que grandes amizades, ou que primeiros amores, não têm um tempo definido nem têm que ser condicionadas por pessoas que dela ou dele não fazem parte. Se não me queres mais na tua vida, ou se não me queres na tua vida por agora, eu não quero querer-te mais. Quero despedir-me de ti com palavras velhas, mortas. Quero despedir-me de uma vez por todas, com esta carta. Porque, da última vez que demos as mãos, despedimo-nos, e na noite seguinte, voltámos a fazê-lo, mas ainda me sinto presa, ainda me sinto um pouco tua. O meu coração ainda acelera quando passas por mim e ainda pesa quando alguém pronuncia o teu nome. Serás sempre o meu impossível amor. O impossível amor que não se consegue aliar ao tempo nem às esperanças. Terás sempre toda a minha Alma contigo, porque eu tanto te amei sem to poder dizer. Eu tanto te amei, e tanto o escondi com medo de pisar um pouco o teu coração, fazendo-o carregar um misto de culpa e de pena. Eu tanto te amei, e tantas palavras ocultei. Eu tanto te amei, e tanto to mostrei sem dares conta, com abraços infinitos e com uma confiança inacabável que demonstrava ter em ti. Eu tanto te amei, e tanto errei, em não me ter declarado naquelas tardes de Domingo passadas no sofá, ou naqueles passeios de horas e horas. Eu tanto te amei, e tu tanto me protegeste em tantas trovoadas como a desta tarde. Eu tanto te amei, e tanto medo tive por isso - mas tu estavas lá. Pertinho de mim, para me ouvires depois de um dia exaustivo ou para me abrires os olhos para o Mundo lá fora. Para me ouvires falar dos meus sonhos, das minhas paixões, das novas pessoas que conhecera. Hoje nem te vejo, nem me consigo recordar do teu cheiro que dantes ainda estava em mim aos fins do dia, nem te conheço. Eu tanto te amei, e eu tanto te amo, melhor pessoa da minha Vida. Mas hoje tenho que me despedir, que te deixar ir. Hoje tenho que deixar o teu coração ir. Hoje tenho que deixar a nostalgia ficar, para que não seja um mero nada que sobre da nossa imensa história. Hoje tenho de te deixar ficar para trás. Hoje tenho que deixar que passes a uma história apenas. E eu tanto te amarei.

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