2.11.11

a perfect night

Debruçada sobre o parapeito da janela, os meus cabelos esvoaçam ao sabor dos ventos mais fortes, e as memórias deambulam pelos meus pensamentos. Estávamos nós, há meses atrás, em território estrangeiro e desconhecido, a partilhar alguns entre os melhores dos nossos dias. Fugimos por uma noite, escapando de convívios e conversas longas.
Passámos uma noite inesquecível, na qual o silêncio e as mais diversas sensações nos guiaram até uma luz, funda e ofuscante. Esse silêncio fez-se ouvir dentro de nós dois, acomodámo-nos a ele, acomodámo-nos um ao outro. Sentimos os toques, os arrepios, a magia e o calor. Sentimos as ondas dos corpos, as feições do rosto, os ferimentos dos lábios. Estendemos os braços um ao outro, no meio da escuridão, e, com a ponta dos dedos, delineámos e sentimos os mais graciosos e puros sorrisos, procurando algo que nos prendesse um ao outro. Uníamo-nos sempre com um beijo extenso e intenso, soltávamo-nos com um ligeiro afastamento, reaproximávamo-nos com uma carícia suave. Viciámo-nos um no outro, olhando através das imperfeições das nossas mentes, dos nossos corações e até dos nossos corpos. Amámo-nos de forma arrojada, contaminámos os ares do quarto com paixão e descontração naturais. Vivemos uma noite a dois, o início de uma vida a dois que ainda estava para vir.
E a noite de hoje veio-me falar dessa noite de outrora. A noite de hoje veio trazer-me desejos embrulhados em papéis rabiscados com saudade. A noite de hoje veio trazer-me réstias do alegre passado. Não escuto a tua voz há algumas horas apenas, mas já sinto tanta falta dela, à medida que me lembro daquela noite, à medida que as lembranças gritam dentro de ti. Porque mesmo naquela noite, em que pouco nos ouvimos um ao outro, eu consegui sentir-te, eu consegui sentir que te tinha como meu. Agora, eu sinto a falta de palavras que exponham o que antes éramos capazes de sentir. Sinto a falta de letras desenhadas cuidadosamente em cartas de papel pergaminho queimado nas pontas, aparentemente antigo. Sinto a falta das declarações de amor e das celebrações frequentes entre nós. Os meus olhos inexpressivos, as linhas que evidenciam as curvas do meu corpo, o meu coração mole... todos essas partes de mim chamam por ti. Choram por ti. Sangram por ti. Pelas tuas palavras. Ou, talvez, pelo silêncio que nos acompanhava a cada segundo, se esse se revelar, uma vez mais, acolhedor.

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