12.12.11

olhar inconsolável

Estava ela cabisbaixa, com a cabeça encostada ao vidro sujo e embaciado. Os cabelos ruivos moldavam-lhe o rosto, compridos e ondulados. Os olhos, castanhos esverdeados, eram fundos, baços e inconsoláveis. Olhava para baixo fixamente, sem nunca desviar esse olhar - como se fosse seu maior desejo seguir para o Inferno.
Encontrava-se em silêncio - era um silêncio nu e cru. Duro, a meus olhos. Não me atrevi a quebrá-lo nem por uma fracção de segundo, pois aprendi com o tempo e com a vida que nada há de mais precioso. Mesmo quando ele nos incomoda e nos carrega a Alma de dor, apercebemo-nos de que algo está ainda presente em nós - e, na maioria dos casos, de que algo está a morrer também.
Muitos de nós mutilam a própria alma todos os dias e queimam tudo, até restar ponta de nada - o pouco que ainda havia de genuíno. Às vezes fazemo-lo amando - sempre em silêncio. E sempre sem sabermos o quanto nos fere e nos destrói esse amor. Acreditamos piamente que nos encontramos e que só existimos à beira do outro, quando no fundo nos deixamos perder... nos deixamos morrer... nos deixamos cair no limite do esquecimento.

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