11.1.12

intermináveis e apaixonantes beijos na boca

Cheguei ao meu derradeiro limite. A natureza transmitiu-me todos os sinais. As tuas flores murcharam e o seu perfume desvaneceu-se nos ares poluídos pelo fumo saído de ti. O sol nasce muito mais tarde, como que a querer atrasar os dias para te dar o tempo necessário para te reencontrares. Para nos reencontrares. Mas o sol também se põe cedo, como que cansado de esperar por alguém que não se move. A relva, outrora verde viva, bonita, resplandecente, secou e aparenta agora ser daninha, velha, descuidada. A água daqueles lagos onde andavam os patos que nos olhavam e nos faziam rir está suja, contaminada pela traição e pela ignorância. E, à parte dos factores visíveis, naturais e óbvios, a falta de ternura e de cumplicidade entre nós os dois está à frente dos nossos olhos, atrás dos nossos corações. Deixámo-nos acabar. Arrastámos sentimentos que nutríamos um pelo outro, tentámos intensificá-los quando estavam a apagar-se e, mais errado do que isso, fingimos emoções que não possuíamos. E o fingimento é fatal. Mais do que as palavras perigosas, proibidas e traiçoeiras - agora sei-o. Às palavras, passamos uma borracha da morte por cima e, num acontecimento repentino, elas desaparecem. Desaparecem tão rápido como tu, quando viras as costas ao nosso amor e andas, andas, andas, andas sem eu te conseguir ver e, mais doloroso que isso, desapareces como fumo e eu nem consigo contar os teus passos. Sinto-me descontrolada e sinto um trave amargo na boca - como se todo o meu Mundo, baseado em ti, desabasse. Como se tu fosses embora sem me dares um beijo de despedida. Sem me fazeres um adeus com a mão direita. E eu, que estava certa e segura de que a cobardia era a maior e mais arriscada das vertigens existentes, agora conheço-te como um desistente - e estou clara de que nada há de mais repugnante. Nada há de mais desconfortável do que sentir que, depois de darmos o que achávamos ser o nosso máximo da luta, depois de desconfiarmos sem podermos mais resistir, apenas fomos mulheres comuns, frágeis e desesperadas ao cedermos o nosso corpo, a nossa alma e o nosso coração a um puro desistente. Onde ficaram os cumprimentos das juras de um sentir eterno, aparentemente sentidas? Onde ficaram os intermináveis e apaixonantes beijos na boca? Onde ficaram os abraços em que me esmagavas de aperto, de quentura e de paixão? Onde ficaram os instantes de entrega e de segurança? As perguntas agora reinam e a intemporalidade torna-se num enigma.
Estamos mais do que acabados. No final, sempre existem laços que se deslaçam e promessas que se quebram.

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