13.6.12

voltar às palavras

Li por aí linhas de um alguém que deixara de escrever por uns tempos, mas que afirmara que algo fazia com que voltasse sempre a fazê-lo. E senti que essas palavras encaixavam em mim na perfeição. Quando o escuro e as lágrimas preenchiam os meus dias, a escrita era a minha vida e a minha própria garra. Escrever era a única coisa que fazia com prazer, embora fosse um prazer sinistro e doloroso. Dói escrever sobre alguém quando sentimos a sua falta até nos nossos ossos e dói escrever sobre uma perda que nos marcou, e que, bem dentro de nós, sabemos que nem daqui a alguns anos, quando a nossa vida e as nossas pessoas preferidas forem outras, não vai deixar de doer nem vamos deixar de recordar com aquele amargo na boca. O primeiro amor deixa uma marca no nosso coração e a primeira vez deixa uma marca desse amor no nosso corpo. Entregarmo-nos de corpo e alma, entregarmo-nos a alguém com aquela ingenuidade de não pensarmos no futuro temeroso que pode vir, de não termos medo de ganhar cicatrizes, só acontece uma vez nas nossas vidas. O coração não resiste às feridas e desfaz-se em mil pedaços. Nada volta. As coisas mudam, e nada indica que seja para melhor. Dói escrever palavras tristes e solitárias quando as sentimos com tudo aquilo que temos. Mas as coisas mudam, a vida dá reviravoltas, as pessoas desaparecem de perto de nós sem avisarem e novas pessoas vêm para ficar do nosso lado. Novos amores podem vir. E aí surgem novas razões para se voltar àquilo que um dia foi a nossa vida. Voltamos às palavras. E tentamos colorir a nossa vida um pouco mais do que quando escrevíamos pelo alívio, escrevinhando palavras cor-de-rosa sobre sonhos mirabolantes. Fingimos que a dor não existe, evitamos pôr o dedo na ferida e recomeçamos a viver a vida. Vivemos um novo amor. Um amor que já não é o primeiro. Um amor no qual já não acreditamos piamente e ao qual não nos damos apaixonadamente. Um amor em que damos um passo de cada vez. Mas, acima de tudo, um amor que não deixa de ser amor e de dar asas a palavras bonitas e calorosas.


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