28.6.11

almost

A chama da tua voz atenua esta saudade que sinto, a toda a hora, e me corrói, de dia para dia. Esta saudade que se intensifica e me percorre os extremos do corpo quando me falas de dias e noites passadas, quando relembramos tempos felizes. Esta saudade que me deixa nós na garganta e que é o único sentimento que ainda nos une. Esta saudade que me impede de te falar sobre aquilo que senti, ainda sinto, ou talvez sobre aquilo que já nem sequer consigo sentir. Roubaste-me os sentidos. Tiraste-me o tacto, a visão, o olfacto e o paladar, um por um. Tiraste-me a capacidade do sentir. Tiraste-me o gosto pela vida e o prazer que sentia nas mais pequenas coisas que, para mim, a caracterizavam. Tiraste-me os desejos e as expectativas. E em troca, o que me deste? Baloiços em que aguardava e réstias de esperança da tua viagem de volta. Cordas para me prenderes a ti num gesto permanente. Cordas que fizeram de nós amantes sem tempo e sem fim, e como eu ontem te disse, para sempre. Fizeste com que estivesse ligada a ti até ao fim dos meus dias, e se calhar mais. Fizeste com que te prometesse um futuro em que estivéssemos novamente juntos, embora esse seja um futuro longínquo e incerto. Arrancaste as memórias mais fundas do meu baú. Desenterraste os nossos fantasmas que enterrei com tanto esforço e tanta frieza na alma, há tempos e tempos atrás. Trouxeste de volta os pedaços do meu coração, serenos, tranquilos, que outrora também me roubaste, mas eles estão agora congelados. Tiraste-me a inocência. Deste-me história ao vivo do nosso passado. Mostraste-me como éramos “o dia e a noite” juntos, fizeste-me viver tudo de novo. Obrigaste-me a viver na fachada, no fundo, a viver um conto de fadas, outra vez. Passeámos juntos pelo “nosso” parque, de mãos dadas percorremos estradas e caminhos perigosos, beijámo-nos como se fossemos os dois únicos seres no Mundo. Coraste o meu espírito e o meu coração… quase que se sentia quentinho e confortável, outra vez. Mas não! Porque todas as memórias que me fizeste reviver, todas as imagens que me fizeste reaver, acabaram num curtíssimo espaço de tempo. Foi só o quase até o momento se tornar real, e eterno. Tenho saudades de me sentar contigo nas escadas mais recônditas e de desabafar contigo sobre as amarguras da vida, sabes? Fazes-me falta, e eu tenho escrito isso tantas vezes. E por vezes, quase que me encho de coragem para to dizer, sem medos. Quase que pego no telefone e te ligo. Mas temo a tua voz. Temo os teus actos que (quase que) trazem o passado de volta até nós. Nalgumas dessas vezes, apenas escrevo uma mensagem com parte de uma letra de uma música conhecidíssima, assim como quem não quer a coisa. Quase que digo, quase que ajo, quase que faço e quase que aconteço. Porém, é a tal coisa. É o dilema do quase. Não chega a ser, mas também não deixa de o ser. É um quase, assim como nós o somos. Quase nunca estamos um para o outro, mas quando estamos, nunca é inteiramente. Já não há entregas, e eu agora receio-as a toda a hora. Tiraste-me a sanidade que tinha e me caracterizava. Como tu disseste, e bem, tiraste-me a confiança que dava às pessoas, na hora, num estalar de dedos, logo que lhes conhecia as linhas do rosto e as histórias de vida. Agora o “complicómetro” ligou-se na minha cabeça e não parece querer desligar-se. Já não me dou aos outros e não me fio pelas conversas alheias. Agora sei que um dia tudo pode mudar, que os sentimentos passam e que até os melhores instantes se esquecem, e a confiança tornou-se para mim num desafio, numa barreira que me é difícil ultrapassar, nunca num dado adquirido. És o quase e o tudo. És o quase tudo, que por vezes falta na minha vida. És a peça do puzzle da minha mente que não está lá nos momentos mais banais do dia-a-dia. Momentos esses, que tu transformavas nos melhores de sempre. Tinhas esse poder em mim: sabia que te tinha a meu lado, e só essa ideia fazia-me sorrir de uma maneira incondicional. Tudo parecia ter mais cor e brilho, sabes? E não digo isto por dizer. Os meus dias eram mais claros, e mais calmos também. Eras uma fonte de paz e serenidade, achava eu que, uma boa influência na minha vida. E será que estaria errada? Será que deva arrepender-me de me ter entregado a ti de corpo e alma? Foi o quase, sabes? Foi o quase… e agora é o quase que te quero outra vez. Ou se calhar não.

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