28.7.11

giving up

Vivo, ou será que apenas pretendo viver? Sinto os olhos quentes, cansados, gastos, vazios. Equiparo-me a ti, enquanto me perco pelo areal e pelas bermas das estradas sem fim, por também eu já não ser capaz de te ver. Estou cega e, infelizmente, não é de amores.
Avistei a tua chegada, temi a tua partida, e fugi dela. Escondi-me atrás dos cortinados, tentando não deixar os pés de fora. Rendi-me à cobardia, por uma vez. Mesmo quando ainda te tinha... quando ainda sentia a ponta dos teus dedos a desenhar o meu rosto, quando ainda sentia o bater do teu coração quando me encostava a cabeça ao teu peito, quando ainda te conseguia tocar e delinear os traços mais fortes, quando ainda sabia que eras somente meu, te sentia longe. Teoricamente, tudo batia certo, as tuas palavras não faltavam nem sobravam, os teus gestos afáveis existiam, nunca demais. Na tua mente, talvez tudo fizesse sentido e fosse feito à medida certa para ti (afinal, sempre faz). No entanto, enquanto te vangloriavas nas ruas repleto de calma, eu sentia um turbilhão demente de emoções distintas e, ao mesmo tempo, completamente novas. O meu corpo passou a estranhar o teu, o odor que pairava no ar quando te aproximavas era desconhecido, tornaste-te num ser curioso, com atitudes meramente censuráveis. A minha mente registou-te como um ser estrangeiro ao meu próprio espaço e à minha intimidade, diria mesmo um ser impróprio. Esse ser encontrava-se desprovido de ternura e de quentura, e tinha levado com ele todos os pormenores dos instantes a dois. Os suores mudaram, os impulsos alteraram-se, o clima morreu, os sentidos foram trocados e os destinos cruzaram-se. As luzes, outrora ofuscantes, reluzentes, brilhantes em demasia, sumiram-se. Todas as memórias e cheiros do passado se tinham desvanecido. Tudo se tinha perdido.
Esse teu novo e inédito ser fez com que eu me ocultasse. Fugi, num acto puramente cobarde, para um Mundo só meu que criei em modo de abrigo, de amparo, de auxílio, ou até mesmo de socorro. Criei um espaço só meu, que enchi com velharias. Recriei as minhas próprias experiências nesta vida, recriei sonhos e velhas ambições, recriei episódios medonhos nos quais fui protagonista.
E, se já nessa altura, em que ainda estavas minimamente perto, criei barreiras diante de mim... hoje, com o aumentar consequente da distância (física e emocional), recriei-as, fortaleci-as. Estou rodeada de muralhas consistentes e sólidas e, palpita-me, que com frieza e indiferença não as conseguirás derrubar.

Até os batalhadores desistem.

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