7.8.11

something about the past#2

Outrora, foste mais que um refúgio, foste um porto de abrigo. Foste o brilho nos meus olhos e o meu sorriso rasgado. Foste o meu tesouro cintilante e ofusco. Mas encadeaste-me, e todas os instantes partilhados foram quebrados num curtíssimo espaço de tempo. Todos os instantes em que pertencemos um ao outro e trocámos murmúrios íntimos, são agora apenas fotografias antigas espalhadas pelas tábuas do chão já gasto e escuro. Velharias queimadas. Cinzas das memórias. Crostas caídas das feridas causadas. Feridas que não se vêem nem se desinfectam. Palavras que não expressam mágoas, nem se soletram. Lembranças das preciosidades guardadas num cofre do qual perdi a chave. Velas apagadas. Reputações estragadas. Pedras da praia desgastadas e sem cheiro a mar. Cartas do nosso amor que o vento levou para terras longínquas. Agora somos como cadáveres enterrados em buracos escavados ao luar. Somos agora registos de um passado frio, autêntico e triste. Estamos esquecidos. Sou agora a noiva que fugiu do altar. Sou agora a Cinderela que de tanto correr deixou cair o sapato de cristal, sem olhar para trás. Sou a tua princesa desistente. Sou agora pequenina, como tanto gostavas de me chamar. Vencida. Perdi-me numa tempestade onde tentava encontrar-me e esqueci-te. Agora trocamos de papéis, representas o meu papel, afastas a nostalgia que tantas vezes te persegue e esqueces-me. De vez.

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