2.4.12

in memoriam

Apercebo-me agora do porquê de ter demorado tanto a voltar a este meu espaço. Porque a essência de escrever está em escrever para ti, com todo o meu amor e, consecutivamente, com toda a minha dor. Com a dor de todas as minhas noites anteriores a esta que passei em branco perdida nas nossas lembranças mais doces. E também com um trave amargo na boca, de quando a quando, pela tristeza eterna de nunca termos sido amantes, por termos sido sempre inferiores ao amor vivido a dois. Privei-me de te escrever, porque o meu coração estava desgastado e porque achei não valer a pena gastar palavras para tentar conquistar um amor que nunca nos irá pertencer por completo. Tu continuas a escrever, sobre mim, sobre as arestas do meu corpo, sobre o meu cheiro, sobre o nosso desejo, sobre a imensidão do teu sentimento por mim. Continuas a juntar pequenas letrinhas como forma de seres honesto, afirmando que me amas. E eu respondo-te, aqui, também juntando pequenas letrinhas, que te amei. E dói escrever isso, dói escrever isso quando já aceitei essa realidade. Dói assumir que foste uma tentação durante tempos e tempos à qual se me tornou difícil resistir. E dói escrever. Dói escrever-te. Ao escrever-te sinto que as palavras... pouco valem. Porque as lágrimas chegam sem darem sinais de se quererem ir embora. E os silêncios ficam, aterradores, nas noites frias de insónia. E não me largam. Como tu. Por mais que agora sejas apenas um pequeno nada, não mais pequeno do que aquilo que já eras, persegues-me. Com as tuas palavras e a tua sombra que vejo na calçada quando caminho sozinha e insegura, puxando o fumo do meu cigarro. Também tu agora te rendeste ao fumo cinzento azulado e belo que os cigarros deitam. Também tu agora te rendeste às conquistas de vários corações por estares só neste mundo, aos elogios baratos. Mas de uma coisa não te livraste, da escrita. Das palavras. E também as usas com elas, como tantas vezes as usavas comigo. E também as usas a elas, às meninas e aos seus corações, como fizeste comigo. Mas eu sei que fomos diferentes. Eu sei que sentimos algo mais que borboletas na barriga, por muito que não o saibamos explicar. Nós somos isso. Somos milhões de palavras e de linhas. Escritas em vão. Porque a nossa essência, o nosso sentimento que foi quase amor, está nas suas entrelinhas. Nos espaços em branco entre uma e outra desses milhões de palavras. Nos silêncios. Nos olhares. E nos sorrisos apagados por nós mesmos, ingénuos.

Sem comentários:

Enviar um comentário