5.9.12

o vício das pequenas coisas e palavras (vício do teu amor)

No passado eu escrevia como quem respira, e ao caminhar, fosse por onde fosse, formulava pequenas palavrinhas na minha cabeça. A mim, palavras dizem muito. E só assim conseguia suportar terrores e fazer com que, de alguma forma, os monstros e fantasmas do passado fizessem algum sentido dentro de mim. Hoje tudo é diferente, em mim tudo é diferente, por ti, porque tu mexes comigo como nunca havia pensado ser possível. E escrever, aqui, ou num bloco de papel qualquer, dia após dia, deixou de fazer tanto sentido e deixou de arrumar os fantasmas do passado no sótão. Agora tu fazes parte do meu passado, um passado feliz, e para mim escrever sobre o passado é escrever sobre um passado triste. As palavras deixaram de transmitir cor e passaram a transmitir-me algo a preto e branco. Agora a tua alma ilumina-me, tu fazes-me descobrir quem sou um pouco mais a cada dia, e isso intensifica-se quando te escrevo, quando transformo a beleza dos sentimentos que escondo dentro de mim em palavras, simples, complexas, cinzentas, coloridas. Esta noite não queria chorar mais por ti (dizes que sou demasiado bonita para chorar e detesto olhar-me no espelho e lidar com uns olhos inchados), nesta noite não queria chorar por nós (nós é uma palavra feliz, nós é uma palavra de amor, nós és tu e sou eu), nem derramar uma única lágrima devido à mudança (porque, afinal de contas, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e c'est la vie), queria apenas reunir todas as minhas forças (o ideal seria reunir as nossa forças - juntos somos mais) e escrever-te sobre o turbilhão de emoções que paira em mim e que teima em não me deixar mostrar ao Mundo o sorriso que, como dizes, tanto adoras. 
E tu não sabes, mas... escrever-te dói: escrever-te palavras de amor e receber em troca o mais puro e doloroso dos silêncios. Escrever-te palavras de desgosto e de expectativa. Escrever-te palavras de desamor e de paixão. Escrever-te palavras de desconsolo e da perfeição que encontro em ti. Escrever-te palavras de desânimo e de gratidão. Escrever-te palavras, palavras, palavras. Não importa de quê. Escrever-te palavras infinitas que pareces nem ler. E, tanto dói, meu grande amor, que sabes o que seria perfeito? Saber que me lias e me entendias, de súbito, nas entrelinhas e no significado mais recôndito de cada uma das minhas letras. Saber que me acariciavas e entendias os desejos no meu corpo, sem eu te dizer absolutamente nada. Saber que estavas do outro lado da linha e que, só pela minha respiração, te apercebias do meu choro compulsivo. Saber que me ouvias desabafar, ainda que com muito poucas palavras e com imensos suspiros e mistérios, e me compreendias no fundo das minhas angústias. Saber que me vias dormir e que sabias, de tão tranquila que estava, que sonhava connosco. Saber que me vias olhar para um casal de aliança no dedo, a brincar, de mão dada, com a felicidade estampada no rosto (no olhar e nos sorrisos rasgados) e que percebias logo que era esse o meu ideal de felicidade. Um ideal de um simples amor. Um sonho a dois. Um tu, um eu, um nós. Um infinito marcado no meu dedo anelar. Saber que me olhavas enquanto estava calada e absorta nos meus pensamentos, com o olhar vazio e logo te apercebias no que pensava, e logo saberias o que me dizer para me reconfortar, como me abraçar, como me beijar, como me tirar do fundo do poço e me trazer de volta a ti. No fundo, como me fazer sentir uma princesa. Na realidade, seria perfeito que cumprisses todas aquelas promessas que selámos, todas aquelas promessas que eu me esforço a cada fracção de segundo que passa, por cumprir, para te ver esboçar um sorriso, para te observar com aquele olhar puro e brilhante; que cumprisses a promessa de me fazer sempre feliz; acima de tudo, que cumprisses aquela em que prometeste nunca me magoar. Porque, oh meu grande amor, os meus olhos choram. Por mim, por ti, por nós. E, oh, tu nem estás aqui para me soletrar palavras de amor e me selar os lábios com um grande, grande beijo. E oh, como eu gostava que, neste mesmo instante, tu tivesses as palavras certas para me fazer sorrir.


E oh, não é, no fim de tudo, a vida feita de pequenas coisas nos instantes certos? De um pôr-do-sol à hora certa? De uma surpresa em tempos tristes? De uma comemoração a dois numa data feliz? Sim, sim, de amor.

E a minha vida é feita de mim, de ti, de nós, de amor. Do vício do teu amor. 

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